quarta-feira, 23 de setembro de 2015

"EIS QUE O INVERNO PASSOU", MAS A DOUTRINA DA IGREJA PERMANECE A MESMA: UMA CARTA PASTORAL DE 1941

O Vigário da Matriz, Padre José Vinggen, ajoelhado aos pés do Papa Pio XII. Atrás, o Cardeal Leme e o Bispo de Ponta Grossa, Dom Antônio Mazzarotto, no tempo em que Guarapuava ainda não era Diocese.

Enquanto em boa parte do território brasileiro o clima se divide em estação seca e estação chuvosa, a região de Guarapuava pode dizer que conhece o que é o inverno, época geralmente de temperaturas mais baixas, de geadas e, de quando em quando, de neve.

Em tempos de decadência religiosa e moral, o Inverno traz um alívio para os católicos bem instruídos na Religião: é o período no qual a virtude da modéstia sofre menos ataques na rua e na igreja, porque o frio obriga a quem sai de casa a se agasalhar e se cobrir. Não que os princípios da modéstia sejam seguidos à risca, mas pelo menos o mal é menor; afinal, é por necessidade, e não por virtude, que certos escândalos nos trajes são evitados.

"Jam enim hiems transiit; imber abiit, et recessit. Flores apparuerunt in terra nostra" [Eis que o inverno passou, cessaram e desapareceram as chuvas. Apareceram as flores na nossa terra], diz o livro dos Cânticos dos cânticos (II, 11-12) anunciando a primavera. Mas com a beleza das flores refloresce também a indecência de muitas vestimentas, as quais, contrariamente às primeiras, desagradam muito a Deus. "Virão modas que ofenderão muito Nosso Senhor. As pessoas que servem a Deus não devem seguir essas modas. A Igreja não tem modas. Nosso Senhor é sempre o mesmo", disse a Santíssima Virgem à beata Jacinta Marto em Fátima, nas aparições de 1917.

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Diariamente, centenas de fiéis passam pela Catedral Nossa Senhora de Belém a fim de assistir à Santa Missa, frequentar os Sacramentos ou rezar. Dessas centenas, talvez quase nenhum saiba que o Prelado de mitra e báculo retratado no principal afresco da Matriz é Dom Antônio Mazzarotto (1890-1980), Bispo de Ponta Grossa quando da pintura, isto é, em 1941, época em que Guarapuava fazia parte do território desta Diocese.

De 1930 até 1965, Dom Antônio publicou uma carta pastoral por ano, sempre na data do aniversário da sua sagração episcopal. Assim, no ano em que a Matriz de Guarapuava estava sendo pintada a carta pastoral escrita pelo zeloso Bispo de Ponta Grossa se intitulava "Males gravíssimos", e versava sobre certos costumes imorais de seu tempo, costumes esses que desde então só se agravaram.

Nos nossos tempos, muitos católicos julgam que a doutrina da Igreja mudou neste ou naquele ponto, pelo simples fato de a maioria dos sacerdotes pouco tratar a respeito. Entretanto, a Fé católica é sempre a mesma, ainda que tantos pastores não a proclamem como deveriam às suas ovelhas. Afinal, basta que o Magistério se pronuncie solenemente uma só vez para que uma proposição seja válida para todas as gerações. "Nosso Senhor é sempre o mesmo", no dizer da Santíssima Virgem.

Mas se a falta de repetição de certas verdades por parte de tantos pastores nos nossos tempos é motivo para que muitos não se julguem concernidos a vivê-las, como se a Fé católica fosse uma propriedade ou criação daqueles que são apenas o seu instrumento de ensino e difusão, a saber, a Hierarquia sagrada—pois como nos diz a Dei Verbum (nº 10): "Este magistério não está acima da palavra de Deus, mas sim ao seu serviço, ensinando apenas o que foi transmitido"—, então que a figura de Dom Antônio Mazzarotto, representado na Matriz de Guarapuava, recorde-nos perpetuamente aquelas verdades morais que nunca mudaram ou mudarão, ainda que infortunadamente haja tantos pastores que não as proclamem ou digam o contrário. O que ele escreveu para os seus diocesanos em 1941, mesmo que seja "inoportuno" ou "desagradável" para muitos católicos nos tempos de hoje, continua válido tanto quanto. Para calá-lo, ou apagando a sua pintura da Matriz ou fechando-a definitivamente. Que Nossa Senhora de Belém nos livre dessa desgraça.

A seguir, o artigo do jornal Folha do Oeste, edição de 20 de abril de 1941, que resume a carta pastoral a pedido do Vigário da Matriz, o Padre José Vinggen.

Clique para ampliar.

Carta Pastoral do Bispo de Ponta Grossa

O Revmo. Padre José Viggen, zeloso vigário desta paróquia, dedicou-nos alguns exemplares da Carta Pastoral do Bispo da cidade de Ponta Grossa, dirigida ao clero e aos fiéis daquela Diocese.
Não nos é permitido transcrevermos toda a referida Carta, pelo motivo de absoluta carência de espaço; limitando-nos, por isso, transladarmos para nossas colunas os seus tópicos mais interessantes.
"Relativamente ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia, lamentamos haver senhoras que dele se aproximam com certa atitude mundana e irreverente. Rosto besuntado, lábios pintados* e, o que é ainda mais repugnante, pernas e braços descobertos.
Com inaudito atrevimento vão receber imodestamente vestidas àquela infinita Pureza, diante de quem os mesmos anjos adoram tremebundos.
Não são poucas as mulheres que, no que concerne à modéstia, renunciam à própria dignidade, não dizemos cristã, mas humana.
Escravizam-se a uma moda imodesta que as avilta a seus próprios olhos e aos olhos dos outros, mesmo dos que aprovam e favorecem tais desmandos.
Entretanto, o principal sentimento inseparável da mulher, particularmente da mulher cristã, deveria ser o da modéstia, da mais perfeita modéstia. O pudor é o seu mais belo ornamento, qual foi sempre de todas as heroínas da Igreja.
Na arena do Coliseu, diante das feras que as despedaçavam, as antigas mártires não tinham outro cuidado, senão o de se conservarem cobertas. Prezavam mais a pudicícia do que a vida.
Como destoam dessas venerandas matronas certas mulheres de hoje, que se dizem católicas e que com suas vaidades e imodéstias se tornam escândalo para o próximo, verdadeiros ardis do demônio na ruína das almas.
Incumbe-vos a vós, senhoras católicas, defenderdes, pela vossa modéstia no vestir, a mais bela, a mais cara, a mais vulnerável de todas as virtudes, a virtude da castidade".

Fonte: Folha do Oeste. Diretor: A. Lustosa de Oliveira. Ano II, nº 68, edição de 20 de abril de 1941. Destaques nossos.

* A respeito do uso da maquiagem, Santo Tomás de Aquino diz: "Nem sempre, porém tal pintura constitui pecado mortal, mas só quando feita por lascívia ou por desprezo de Deus [...]." (Suma Teológica, IIª seção da IIª parte, questão 169, artigo 2, resposta à 2ª objeção)

Um comentário:

  1. Dica de Leitura: https://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/motu_proprio/documents/hf_ben-xvi_motu-proprio_20070707_summorum-pontificum.html#_ftn1

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